O cordão da vida


Já todos imaginámos o que seria a inóspita desgraça de um dia, longe da areia, nalguma onda mais dura, o shop, leash, cabo, corda que nos segura à prancha cortar-se.

É uma coisa que acontece por vezes, geralmente aos outros, mas algum dia, remoto, pode acontecer a mim.
A Prancha é como um barco de apoio, esta sempre ali, nos dias de chuva, de sol, nos dias de vento agreste, nos dias calmos, nos flats ou nas ondas duras.

Uma prancha é como uma Amor perfeito, há sempre uma comunhão sem palavras, uma dependência saudável.

Mas como nos Amores perfeitos, o cabo pode partir-se.

O pânico é a pior coisa. Podemos perder-nos e pode a prancha perder-se nos rochedos e partir-se de vez.

Nessas situações limite, o fato bóia e qualquer surfista o sabe fazer também, mesmo que pense que não.
Podemos nadar, nadar tranquilamente para terra, meia hora, uma hora. Se cansado. Pára. Aproveita para olhar para o céu e ver a vida que levas. Nada de crol, de bruços, de costas, conta os pirolitos de água salgada que já bebeste. O tempo passa e alguém chega, nem que seja a areia para onde as ondas te levaram.
Se houver alguém na água, dá sempre uma ajuda, somos comunidade.

Depois há que ir buscar a prancha, descansar em silêncio contemplativo e refazer o leash, esse fio da vida, que nos liga como se de almas gémeas a prancha e nós nos tratássemos, fiéis, sempre ali para tudo, o bom, o mau, a saúde e a doença, a riqueza e a pobreza, amando como o outro quer ser amado.

É assim, nesta dupla, que se conseguem momentos de pura magia no respeitoso mar. O Amor perfeito entre a prancha e o surfista refazem-se sempre.

Tudo na vida devia ser como o surf. Não há ferida que não sare, não há pé que não volte ao sítio, não há resina que não concerte uma tábua, não há nunca uma última onda!


Comentários

Sara disse…
Eu, hoje e muito pessoalmente, folgo em saber disto tudo.
Sobretudo que "não há nunca uma última onda!"
;)
*
Unknown disse…
Boa noite!

Peço desculpa pelo atrevimento,mas não consegui resistir em dar uma opinião.

Para mim, o mar é a energia de que precisamos para levar a vida... ao sabor das ondas... :)

Vamos navegando!

Catarina Viana
Unknown disse…
Como entendo este texto...explicaste exactamente aquilo que eu senti!
Sem o leash sinto-me completamente perdida e estou a re-aprender a confiar nele. O amor ao leash e a dependência à prancha :)

depois dessa, tenho a perfeita noção que a vida são 2 dias e que 1 já lá vai e que there's always a winning wave out there

xoxo*

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